
Se me permitem o abuso no uso da memória, voltei a lembrar-me de vezes em que do Porto veio a força do ânimo e a dinâmica do volte-face. Aconteceu não uma, nem duas vezes na nossa história. Uma especialmente marcante, das mais célebres e mais imprevistas, foi, sabe-se, na visita triunfal ao Porto, em que Humberto Delgado foi empurrado, através do entusiasmo popular, para embalar numa dinâmica que fez tremer o regime do Estado Novo, em 1958. E, sem fraude e sem repressão terrorista, Delgado teria ganho, folgadamente, perante o bonzo bronco do Tomás. E tudo começou no Porto, frente á Estação de São Bento. Dali veio o ânimo para combater o pessimismo e o medo, dali veio a energia popular desejosa de empurrar o país para um novo rumo. Porque, quando quer e sabe, o Porto dá cartas, e que cartas, de arrebate de cidadania.
Porque me lembrei agora do Porto e de Delgado? Só porque não sou cego e vi como o povo do Porto recebeu e incentivou Manuel Alegre, dizendo-lhe para não desistir e que vai ganhar havendo vontade de ganhar.
Mudaram-se os tempos e as circunstâncias. Felizmente. Mas, à sua maneira, nas novas maneiras, o Porto deu o sinal. O resto que o siga e prossiga.