![capt.sge.blg56.170106211107.photo00.photo.default-398x231[1].jpg](http://agualisa5.blogs.sapo.pt/arquivo/capt.sge.blg56.170106211107.photo00.photo.default-398x231[1].jpg)
Farto de ler os sinais de bílis esfarrapadas dos sócrates-soaristas mal dormidos com a infeliz escolha que fizeram (mais a banhada que levaram) e que, em vez de enfiarem a carapuça, tentam pendurá-la em outros, coloquei um
post que teve a estulta pretensão de fechar a página eleitoral com uma síntese de despedida. Também com o ainda mais estulto desígnio de mudar de assunto por pensar que há mais vida além de Belém. Enganei-me, o fecho da tenda ainda vai demorar. E se assim é, que o seja.
O
Alonso está totalmente isento do ónus da suspeição de se tratar de um esquerdista (digo assim porque sei que o
Alonso reduz a esquerda aos esquerdistas, o que é, diga-se, um reducionismo do catálogo dos estereótipos). Pelo que escreve (não o conheço além disso), trata-se de um caso atípico de conservador católico
inteligente. E é o último atributo que faz toda a diferença. Relativamente à esquerda e à direita brutas. E o
Alonso entendeu fazer uma crítica pertinente ao meu
post, observando:
Sem dúvida que foi essencialmente de esquerda a votação que o Alegre teve, o que é coerente com a própria identidade ideológica do candidato, mas parece-me redutor definir como "maioria de esquerda silenciosa" esse eleitorado. Para minha surpresa, vim a descobrir, já esta semana, muitos não esquerdistas que me disseram ter votado Alegre.. O que é argumento a considerar se se quiser entender o que representa, sócio-politicamente, o milhão e tal de votos em Manuel Alegre.
Tive, pessoalmente, vários testemunhos que confirmam o que o
Alonso disse - monárquicos, conservadores, pessoas do centro, hiper-valorizadores dos valores, reviram-se no discurso de Manuel Alegre e perfilharam-no como contraponto à degradação politiqueira dos candidatos partidários, transferindo para ele a orfandade pela falta de um candidato que fosse ortodoxo na representação de uma linha de valores que simbolizasse um retorno a um conceito patriota de globalização nacionalista. E, convenhamos, Cavaco, menos que um nacional ou cosmopolita, não passa sequer da imagem básica do provinciano fura-vidas. Digo que esta abrangência do discurso de Alegre (e ela só pode ser sincera para quem conhecer a sua obra poética), bem perceptível como contraponto ao jacobinismo cosmopolita (de raiz maçónica?) da esquerda aparelhada e ao provincianismo cavaquista, não me incomodou pois há muito penso que divisão forçada entre patriotismo (nacionalismo é outra história) e internacionalismo (a maior parte das vezes, não passando de cosmopolitismo fanatizado na frustação por um povo habituado a viajar e interagir pouco) é mais um tique que uma essência. Tudo dependendo do conceito pátrio (leiam Cunhal, está lá a receita da genial síntese bolchevique-patriota e que, por si, explica a inércia da persistência do fenómeno PCP e que é muito mais arrepiante que a deriva patriótica do discurso de Alegre).
Mas, obviamente e como o próprio
Alonso reconhece, a atracção de Alegre sobre o centro e a tradição foi um fenómeno menor, uma questão de franja eleitoral. Porque o grosso da votação em Alegre proveio do eleitorado da esquerda abrilista (desejosa de repetir o primeiro Primeiro de Maio de 1974), inconformada com a inércia viciosa dos aparelhos que dominam os três partidos da velha e da nova esquerda (com maior quota de incidência, claro, entre o eleitorado socialista, inconformado com os vícios do aparelho, a deriva tecno-liberal do socratismo e o absurdo grotesco da escolha de Soares como seu candidato). Assim pensando, adopto a precisão do
Alonso, embora a conversa fosse outra se tivesse havido segunda volta. Aí sim, iria revelar-se crucial a capacidade ou inépcia de fixação desse eleitorado tradicional atraído pelo patriotismo da mensagem de Alegre e em que medida ele iria compensar, ultrapassando, a deserção de votos à esquerda previsível pelos ressabiados sectários com o fracasso socrático-soarista, a somar ao desgaste pela incapacidade de Cavaco para responder ao esforço de uma re-prova dos seus trunfos da gestão dos silêncios. Mas esse cenário, infelizmente, não passa de cenário sem prova de dados. Inútil, portanto.
PS Na boleia desta conversa com o
Alonso, não percam a monumental tareia (bem merecida) que ele dá na trapalhada justificativa com que
Vital Moreira dá provas de desorientação soarista, até no mau perder, sobretudo pela prova da incapacidade em perder (
aqui).