
Com uma vida gasta de luta e de persistência, em que se contaram mais de dezassete anos de prisão nas masmorras do fascismo português e muitos outros anos como revolucionário clandestino, aos 88 anos de idade, faleceu José Vitoriano, um destacado sindicalista (no ramo dos operários corticeiros) e um revolucionário que ocupou, no PCP, os lugares mais destacados na sua direcção. Foi deputado na Assembleia da República, onde chegou a ocupar o cargo de Vice-Presidente.
Lidei esporadicamente com José Vitoriano mas o suficiente para me aperceber da sua dedicação total à causa comunista, com imensa afabilidade e profunda modéstia, mais uma preferência simpática para que as decisões resultassem não da imposição mas do cruzar dos argumentos. [Embora me ficasse a impressão que a sua preparação ideológica e cultural estavam aquém do que era exigível pelo nível de responsabilidades que lhe foram atribuídas] As circunstâncias da vida tornaram-nos vizinhos e habituei-me, nos último anos, a conviver esporadicamente com ele já reformado, eu a assistir ao seu porte irreversível e digno de homem modesto e persistente naquilo de que fez causa de toda uma vida e a quem quase tudo deu, cumprindo os seus rituais de vida com a mesma humilde dignidade de velho operário corticeiro.
Não podia deixar de anotar aqui a minha homenagem sentida perante a
sua perda.