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Deu aulas na Beira, Moçambique, entre 1965 e 1967. Quando, ainda há meia dúzia de anos andei por lá, encontrei restos do fascínio deixado por este professor entre seus antigos alunos, daqueles que, apesar de alguma desesperança e muitos desencantos, acham que não faz sentido continuarem-se como africanos fora de África, sacudindo dores e cicatrizes, as carências e a luta por dignidades maiores. Marcou-os portanto e muito. Ou seja, quanto este professor deve ter dado e recebido na sua passagem pela Beira
O professor que passou pela Beira, uma Beira que também era demasiado Jardim, deixou assim registado nas suas memórias:
"Se houve alguma coisa em África que me marcou definitivamente foi a realidade colonial. Quando eu parti ia preparado para enfrentá-la: sabia quais os seus contornos e o papel que me cabia como professor, quais os alunos que ia ensinar. Sabia também que ia ser um veículo de transmissão ideológica de uma classe dominante. Sabia que tudo ia ser muito mais violento que tudo quanto tinha experimentado até aqui. Custou-me muitíssimo ir para África, mas hoje não estou nada arrependido".
"Fiquei terrivelmente ligado àquela realidade física que é a África, aquilo tem de facto qualquer coisa de estranho, uma força muito grande que nos seduz".
"O meu baptismo político começa em África. Estava a dois passos do oprimido".Este professor também cantava. Não sei se era tão bom professor quanto cantor. Difícil seria tamanha façanha, adianto. Mas, falando como falou, cantando como cantou, o mais certo será dizer que ele era (é) um professor que cantava (canta), tanto nos ensinou (ensina) pelo seu cantar único.
A malta do meu tempo chamava-lhe só Zeca. Ainda assim dele falamos. Isso, o Zeca, por vezes sublinhando "o grande Zeca". Era o
Dr. José Afonso.