
Ainda aproveitando a linha do tema dominante deste fim-de-semana a puxar uma metade para o místico e a outra para a crendice, acho que o país, de facto, pode aproveitar muito com esse segmento de mercado do turismo religioso.
Vi na televisão que a aldeia da Lúcia mais dos outros primos pastorinhos têm a coisa a preceito, com placas trilingues, guias turístico e primos e primas a testemunhar, rentabilizando visitas e compras de lembranças sem fim pelos turistas místicos e marianos de todo o mundo ao irem visitar a antiga casinha onde a Lúcia nasceu e foi criada, antes de lhe dar a miragem psicadélica e ser punida, por causa disso, com pena de internamento perpétuo numa prisão de freiras.
Só que eu acho que a aldeia da Lúcia tem problema grosso com essa coisa do turismo mais a mística e a probabilidade de haver uma grande salganhada agnóstico-católica chama-se
Aljustrel. E a
Aljustrel mais conhecida é outra e bem outra. É terra de mineiros, malta rija, nos cantares e nas lutas, e está espetada no Alentejo e a sua maioria (absoluta) não vai em missas mas antes pela CDU, afeiçoada que está mais à foice e martelo que aos pastorinhos.
E estou a imaginar, se a coisa não for bem informada e melhor esclarecida, logo à chegada, os equívocos e desvios de receitas proporcionados pelos turistas místico-lúcio-marianos a desembarcarem na Portela, a apanharem um táxi e arrematando uma viagem até
Aljustrel e o taxista (espécie não fiável), em vez de embicar A1 acima, rumar A2 para sul. Não é que os compadres alentejanos os tratem mal, muito pelo contrário e isso garanto eu que sempre lá fui bem tratado apesar de ser ateu, mas quando lhes pedirem para indicarem a casa da pastora santinha, ainda lhes respondem que a Catarina Eufémia, a única a quem reconhecem o diploma de santa na luta, não era pastora mas sim ceifeira e não era dali mas de Baleizão, um bocadinho mais à frente (100 km ou mais, para um alentejano, é sempre "já ali"), passando Ferreira e Beja. E, nas voltas e contra-voltas, quem ganha mais no negócio turístico, abarbatando as divisas quase todas e minguando para as compras de impulso em pechibeques lúcios e marianos, é a corporação dos taxistas e que, julgo eu, não serão os mais devotos do IVA.
De
ana a 20 de Fevereiro de 2006 às 21:55
Obrigada amigo.
Deus o abençoe e, também digo, nunca as mãos lhe doam - vá "postando", já que de apostolado não é muito devoto.
De Joo a 20 de Fevereiro de 2006 às 16:05
Eu não sei o que leva duas crentes a visitarem este sítio ímpio. Mas como respeito todos os gostos, resta-me agradecer, vaidoso, as companhias. Nos casos, duas excelentes companhias. A Maria Conceição é um pessoa que me fascina - sente-se que vive em permanente catolicismo vivido mas consegue ser, por vezes, mais anticlerical que eu e tanto me esforço por o ser, querendo sê-lo. À Ana só digo que eu não discuto religiosidade(s), resta-me respeitá-la, mas quanto a crendices, apesar dos calos, espero que nunca as mãos me doam. Quanto ao facto de ser ateu e gozão, o que esperar? Se nos sobra o tempo não consumido em orações, como utilizar os tempos livres? Abraços devotos às duas estimadas companheiras.
De
ana a 20 de Fevereiro de 2006 às 15:41
Ateu e gozão, amigo. Mas está cheio de razão; há sempre o risco de levarem a turistada ao Alentejo e não ficariam mal servidos, que a gente lá é boa e a comida melhor.
Eu acho Fátima um negócio e, pasme-se, gosto de lá ir. Gosto de entrar em Igrejas e catedrais e ficar por lá a pensar. São bons locais para pensar, para olhar para dentro de nós mesmos. Claro que é nas horas mortas. Mas impressiona-me ver a fé que se sente no ar, como a humidade, em dias de rituais mais fortes. Não sei explicar, mas sinto-o. Se alguém gozar comigo sobre isto, eu deixo, não me ralo. Também já assisti a uma procissão (nocturna) das velas em Lourdes e havia algo, "o ópio do povo" atingiu-me.
Com tempo, virei ler esta série magnífica. Estava a pensar postar qualquer coisa sobre o assunto, mas palpita-me que o meu caro João já pôs por aqui, as coisas no lugar ;)
Abraço
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