No eclodir de movimentos insurreccionais, a simbologia de dramatização, demonizando quem se quer combater, representa um papel chave. Um martírio, uma chacina por exemplo, no mínimo um assassinato odioso, às mãos dos que se querem sacudir do domínio, é uma alavanca poderosíssima para posterior tratamento de propaganda e como factor emocional de revolta e de mobilização. Por norma, surge o mito e o empolamento, a lenda até, para carregar as tintas.
Como cá e no antifascismo, os assassinatos de Catarina Eufémia, Dias Coelho e Alex, foram pontos fortes de denúncia da natureza criminosa do regime, em Angola foi o massacre da Baixa do Cassanje e o 14 de Fevereiro, em Moçambique o massacre dos Macondes no norte, na Guiné, o
massacre dos marítimos do cais de Pidjiguiti, ocorrido em 1959, era e é a grande referência na denúncia da ignomínia colonial e a demonstração que, perante ocupantes criminosos, nada mais restava que combatê-los também pela violência.
Com a distância no tempo, vão-se criando as condições para limpar parte da lenda e ganhando relevo as circunstâncias e a verdadeira proporção dos acontecimentos, também se aclarando aspectos sobre qual organização ou quais organizações estiveram por trás das movimentações reivindicativas reprimidas.
O historiador guineense Leopoldo Amado, na sua investigação persistente sobre a guerra colonial (guerra de libertação, para os guineenses) ocorrida naquela antiga colónia portuguesa, fornece um conjunto de dados fundamentais e inéditos sobre a génese e envolventes do massacre de Pidiguiti de que recomendo a
leitura aos amantes da aproximação à verdade histórica.