Segunda-feira, 23 de Janeiro de 2006

UMA EXPERIÊNCIA

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Como aqui já disse, entre tantos anos partidários de militância, mais os outros, nunca me havia calhado pertencer a mesas eleitorais. Coube-me agora, por “míngua aparelhista” da candidatura que apoiei, fazer aprendizagem e exercício dessa nobre e essencial função de garantir o “regular funcionamento das instituições democráticas”. Fi-lo com uma juvenil crença cidadã de recomeço de luta através do básico e mais nobre e que é o que mais sustenta esta democracia de pouco mais que trinta anos.

Li afincadamente o “Manual”, tirei dúvidas, preparei-me como se estas fossem as primeiras eleições democráticas da minha velha vida. Porque Manuel Alegre me havia restituído esta força de cravo e rosa, uma estranha energia de renascer para a democracia da esperança. Sobretudo, procurei não fazer má figura. E eu achei que não podia fazer figura decorativa em nome de quem me acordou os sonhos de Abril.

Num concelho de maiorias absolutas e ininterruptas do PCP, esperava encontrar o afinco militante e o reencontro com a fraternidade de esquerda, tanto mais que ia pela esquerda e por Abril, ou seja, por Alegre. E eu ia com a lição (a regulamentar, a do STAPE) bem estudada. Encontrei um grupo altamente “profissional” e “habitual”, uma mesa constituída por "velhos convivas" de muitas outras gestões de pugnas eleitorais. Fui recebido com uma frieza de hostilidade que me surpreendeu. Percebi melhor como Alegre incomodava até ao patamar mais básico da cidadania aparelhada. Indicaram-me um lugar lateral para me sentar. E eu, sabendo que esse era o lugar dos delegados das candidaturas, assim me releguei. A eleição começa e reparo que a Mesa que devia ser de cinco, tinha seis elementos em harmoniosa parceria de função. Pergunto, respeitosamente, porque é que aquela Mesa é supernumerária. Dizem-me que a Mesa está certa mas que uma das senhoras não é da Mesa mas sim delegada de uma candidatura. E acrescentam-me “não se incomode, ela não come votos”. Eu incomodo-me e exijo respeito pela Lei e igualdade de tratamento para com todos os delegados das candidaturas. Murmura-se um “parvo” mal salivado, a “delegada do Jerónimo” (que mostrava ser, afinal, a “chefe de turma”) tomou um lugar contrafeito de conveniência regulamentar, embora nunca desistindo de enviar recados de mando de procedimento para as camaradas da Mesa (suponho que, no Partido, ela tenha lugar de superioridade hierárquica).

Foi um dia eleitoral de aguentar o ostracismo democrático. Mas, na contagem dos votos, as coisas já estavam à beira da normalidade. Depois, tudo ficou nos conformes, votos confirmados e reconfirmados. E deu assim: Cavaco-278, Alegre-216, Soares-89, Jerónimo-70, Louçã-29, Pereira-4, brancos-3, nulos-1. Entre um desabafo de “querem lá ver que vamos ter um poeta como presidente” e um “voto alegre” democraticamente devolvido do “molho jerónimo”, as coisas acabarem em bem, limpas e em cordialidade de fecho de tenda.

Com Alegre, até nesta pequenina escala, ganhei eu, em exercício de cidadania, e julgo que os outros, os da democracia instalada e burocratizada. É isso: a democracia, mais que teoria, é prática. E íamos lá. Se praticássemos mais.









publicado por João Tunes às 23:43
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De Joo a 3 de Fevereiro de 2006 às 12:56
Obrigado pela visita, camarada Marques dos Santos. Um esclarecimento: os delegados das candidaturas não são remunerados. Foi o meu caso. Continências.


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