Quinta-feira, 16 de Fevereiro de 2006
A reeleição de Pedro Pires como Presidente de Cabo Verde, a par do igual sucesso de Nino Vieira na Guiné-Bissau, mais a eleição de Guebuza em Moçambique, não contando com o caso de Dos Santos que parece gostar mais de petróleo e de diamantes que de papelinhos nas urnas, independentemente dos juízos sobre estas personalidades, tão diferenciadas entre si, demonstra como, passados trinta anos sobre a descolonização, as elites consideradas nas antigas colónias portuguesas ainda são as formadas no caldo político-militar da guerrilha contra a ocupação armada dos portugueses. Ou seja, embora pela via simétrica do anticolonialismo, a herança portuguesa persiste em África mesmo que como sinal de antinomia. Dando que pensar como é ainda inviável a emergência, nestes países, de uma outra elite - civilista e suficientemente poderosa e cultivada nos assuntos de Estado além da cultura militar-guerrilheira e da recomposição geoestratégica.
Do ponto de vista histórico e pelo lado português, é esta a triste ilação. A de que foram estas as únicas elites africanas que fomos capazes de formar no projecto remendado e aldrabado de criar novos brasis os quadros guerrilheiros com quem dialogámos (e formámos a combaterem-nos) pelo tiro e pelo napalm.
De Joo a 16 de Fevereiro de 2006 às 22:28
Comentário absolutamente apressado, injusto e inamistoso. A pressa na pistolada não terá ajudado à leitura. Não há uma letra sequer no meu texto de "paulada" a Cabo Verde. Se tivesse "poder professoral", que não tenho nem quero ter, obrigava a Susana a ler trinta vezes o post e depois meter umas orelhas a condizer. O que registei foi uma perplexidade perante a manutenção da supremacia das elites guerrilheiras, passados 30 anos após o fim do colonialismo. E sobre as conexas responsabilidades, julgo que fui bem claro. Têm tempo largo, registado na blogosfera, muito antes de a Susana aqui chegar, a minha admiração para com Cabo Verde e a enorme vontade de vencer, pela cultura e pelo saber, o subdesenvolvimento e as heranças. E nunca fui turista em Cabo Verde, trabalhei lá com colegas caboverdianos e irmanados a fazer Cabo Verde avançar. E a alta apreciação pela sua capacidade de adopção da rotatividade democrática, invulgar no panorama africano. O que não me impede que me espante e indigne que a sociedade caboverdiana prolongue uma inaceitável estratificação social-racista que é, a meu ver, a sua nódoa negra (veja quem é poeta, político, embaixador, presidente, ministro, director-geral, professor, quadro de empresa; veja quem é operário, camponês, estivador e quem extrai o "grogue" da cana; veja quem canta e quem pinta; veja quem é prostituta). Um que até bebeu um copo extra de tinto por Pedro Pires ganhar ao Carlos Veiga. Ora!
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